sexta-feira, março 07, 2003

Rodoviária e a difícil tarefa de comprar passagens de ônibus

Sete horas da manhã, o despertador toca. Vou até a rodoviária com minha prima, que quer ir para Viçosa. O ônibus, já nos informamos antes, sai às 08:30h. Teremos carona até a Novo Rio, de carro, portanto não precisamos nos apressar tanto assim. Nos arrumamos e saímos a caminho da Rodoviária.

É claro, pegamos engarrafamento no caminho. Tudo bem, tudo bem. Chegaremos um pouco atrasadas, mais ainda dá tempo. Está dentro da previsão. Conseguimos chegar em frente ao guichê da companhia de ônibus às 08:15h. Agora era só comprar a passagem e descer até a plataforma.

Mas claro que nãoooo! Porque tinha uma plaquinha no tal guichê. Uma plaquinha com os seguintes dizeres: "Fui despachar um ônibus na plataforma 11 e já volto."

Esperamos cinco minutos, nada. Então, ficou combinado: "você fica aqui com mala, eu vou até a plataforma 11 falar com o cara".

Para você descer até a plataforma, sem passagem, tem de pagar R$1,50. R$1,50 para se locomover numa rodoviária mal estruturada, que só tem duas escadas rolantes - e mesmo assim, no setor de embarque. Além de outros problemas inumeráveis. A única rodoviária interestadual da cidade do Rio de Janeiro mais parece uma piada, comparada com o Terminal Rodoviário Tietê de São Paulo, por exemplo. Ou, até mesmo, com a Rodoviária de Belo Horizonte. Mas você está com pressa, quer viajar, ou então, quer só se despedir de alguém - e acaba pagando os R$1,50 (mais do que um passagem de ônibus intramunicipal, mais do que um ticket de metrô). E foi o que eu fiz, para eu resolver o tal problema.

Achei a plataforma 11. O ônibus ainda estava lá, motorista e mais um funcionário da firma - o atendente, que na teoria deveria estar no guichê, vendendo passagens - embarcando os passageiros e as malas. Tento perguntar para um deles, educadamente: "Oi, bom dia, eu queria comprar uma passagem para Viçosa, não tem ninguém lá no guichê, o ônibus sai às 08:30h...". Ele me olha dos pés até o último fio de cabelo, e diz, com um certo ar petulante:

- Ah! A senhora devia ter chegado antes. Teve sorte de encontrar o ônibus ainda aqui.
- Então é esse ônibus?
- É. (Na frente do ônibus estava o nome de alguma outra cidade. Provavelmente, o ônibus passava por Viçosa e deixava os passageiros por lá.)
- E como eu faço para comprar a passagem? Quer dizer, para a menina que está lá em cima comprar a passagem?
- Fala com o motorista. Se você tiver mais sorte, talvez tenha alguma passagem sobrando.

Lá fui eu falar com o motorista:

- Bom dia. Tem uma menina lá em cima tentando comprar uma passagem, não tem ninguém no guichê. Como eu faço? Tem lugar sobrando?
- Tem, tem lugar sobrando sim. Mas a senhora devia ter chegado mais cedo.
- Eu cheguei 08:15h. O ônibus sai às 08:30h.
- Ah, mas pra comprar passagem tinha de chegar antes das 08:00h. (quase que eu perguntei: "e onde está escrito isso?").
- Tá, mas como eu faço para a menina comprar a passagem?

O motorista e o funcionário se olham. Se olham, conversam e olham pra mim de um jeito petulante, de novo. Me analisam novamente dos pés até o último fio de cabelo. Talvez eu tenha cara de assaltante ou de alguém perigosa, vai saber. Mais alguns minutos de conversa. O funcionário começa a fechar o bagageiro. Eu resolvo perguntar, outra vez:

- E então? Ela pode ou não pode comprar a passagem?
- Ah, você pode ir entrando aí no ônibus que eu vendo a passagem pra você.
- Mas não é pra mim! Eu já disse que não é pra mim. É pra menina que está lá em cima, esperando no guichê.
- Lá em cima?! Ah! Então o ônibus não pode esperar, não.


Eles não podem esperar nem cinco minutos. Mas eu posso ficar por mais de quinze minutos esperando os desgraçados resolverem, né? E não, não tem mais nenhuma outra companhia que faça o trajeto Rio de Janeiro - Viçosa. E o próximo ônibus só sai à noite. O resultado é óbvio: minha prima não vai mais para Minas (ela iria até lá para uma festa de formatura), porque não adiantaria absolutamente nada. Amanhã volta para São Paulo, onde mora.

E eu fico aqui, pensando: por que é tão complicado comprar uma passagem assim, meudeus?

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