quarta-feira, março 26, 2003

Direitos individuais porra nenhuma
A gente não vale nada. É sério. Basta ver o que aconteceu comigo na noite de terça-feira, dia 25 de março de 2003. Eram 19h54, pouco faltava para o fechamento do jornal, meu telefone celular tocou, aparecendo o número 9971-1234. Atendi.
"Sua ligação está sendo encaminhada para o setor de cadastramento da Telefônica Celular"
"Mas eu não liguei para merda nenhuma", pensei.
Tocou.
- Setor de cadastramento da Telefônica Celular, boa noite.
- Meu telefone tocou.
- Sim, senhor, é que nós estamos recadastrando os telefones pré-pagos, precisamos de alguns dados.
- Ei, mas peraí, eu nem sei quem é você. Como assim, como alguém liga pro meu telefone e me sai pedindo dados? Vocês estão malucos?
A mulher me explica - cheguei a pedir desculpas, pois fiquei realmente puto - que em função do decreto tal de não sei que porra de dia do governo estadual em 2002, todos os pré-pagos têm que ser cadastrados. Achei ótimo, tudo normal. Só que eu, quando comprei o celular, preenchi um cadastro e ENVIEI PELO CORREIO. Na época, já havia esses problemas dos traficas usarem o pré-pago, por isso eu já quis evitar. O diálogo continuou.
- Senhor, preciso da sua senha.
- Eu não tenho uma senha.
- É o número do código de ativação. Se o senhor não o fornecer, não poderemos recadastrar e cada ligação que o senhor fizer será interceptada pela Telefônica Celular.
- Como é que é? Que merda é essa? Eu estou no meio do meu trabalho, ajudando a fechar um jornal, e de repente alguém me liga dizendo que se eu não tiver no bolso um cartãozinho que veio com um telefone que comprei há três anos eu vou ter minhas ligações interceptadas? Fala a verdade, vocês estão de brincadeira, né?
O papo continuou. Claro, eu não estava falando com um ser humano, estava falando com um ser treinado para não se irritar - e isso é o que mais irrita. E eu puto nas calças.
A mulher concordou em não exigir a tal senha, desde que eu dissesse de quanto tinha sido minha última recarga. Eu respondi, e aí começou o tal cadastramento.
- CPF.
- (a contragosto). É xxxxxx.
- Identidade?
- (muito a contragosto). É xxxxxx.
- IFP?
- Sim.
- E-mail.
- E-mail? Como assim?
- É, um e-mail que o senhor queira colocar. E preciso de um CEP e um endereço também.
Dei todos do jornal. Continuaram as perguntas.
- Nome do pai?
- Pô, peraí, para que isso?
- O senhor optará por não dizer o nome do pai e da mãe?
- Não é questão de opção, só não entendi por que o pai e a mãe têm que entrar nessa história. E o e-mail?
- O e-mail é para o senhor ser avisado de promoções da Telefonica Celular coloco o link aqui porque quero que algum deles leia esse texto
- Ah, então não é só recadastramento.
Encerramos a sessão de tortura, pedi desculpas à moça, dizendo que sabia que ela tinha ordens para fazer aquilo, mas ela conseguiu continuar impessoal, dizendo "nós sabemos", falando na primeira do plural que nem o Evaristo de Macedo - hábito que me irrita.
Fico pensando: QUANDO um dia o direito à privacidade nesse país não vai ser privilégio dos milionários?

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