sábado, setembro 06, 2003

Médicos

- Sinovite.
- Anh?! Sinusite?
- Não. Sinovite. Inflamação na membrana que recobre a bacia.

Até que não era um diagnóstico grave para quem sentia dores fortes ininterruptas no lado direito das costas. "Inflamação na membrana que recobre a bacia". Então, tá bom. Fisioterapia, remédios caros comprados. Enfim: todas as recomendações médicas obedecidas direitinho. Pena que não era o diagnóstico certo. E pena que depois de duas semanas seguindo corretamente as ordens médicas que estavam erradas, o quadro se agravou. Muito. As dores fortes se tornaram lancinantes. E continuavam tão ininterruptas como antes. Tem certas horas que é melhor ser um paciente desobediente.

Médico novo, vida nova: "você tem uma hérnia de disco". E das graves. O "vida nova" não é força de expressão. Repouso absoluto por, pelo menos, dois meses. Fisioterapia? Nem pensar. Remédios - caros - em doses cavalares. Dieta digna de um monge no Tibet: "você não pode ficar acima do peso de jeito nenhum; e vamos torcer para que o tratamento dê certo e a cirurgia não seja necessária", disse o Doutor. Eu torço, o dono da hérnia - o Gustavo, meu namorado e companheiro de blog - torce. Todo mundo torce.

Menos o primeiro Doutorzinho, aquele do diagnóstico errado que fez o quadro se agravar . Filho de médico famoso, ortopedista de clube que já pertenceu a terceira divisão carioca (e cá entre nós, quem já foi de terceira é de terceira pra sempre, pelo menos no futebol, onde todos os preconceitos com os times alheios são válidos). O consultório dele, numa clínica que leva o nome do pai famoso - que já morreu - é uma beleza. A cadeira em que o Doutorzinho se senta é um verdadeiro trono. A dos pacientes, confortáveis. A mesa que separava os mortais sofredores de sua Majestade, gigantesca, para garantir a distância entre a realeza e a ralé.

Médico que não encosta no paciente nem para cumprimentar não pode ser confiável. Ou vocês já viram ortopedista que não coloca a mão no paciente para examiná-lo? Outra característica interessantíssima no consultório do Doutorzinho eram os diplomas emoldurados na parede. Dezenas deles. Verdadeiros troféus. Pena que nenhum carregasse o seu nome, mas todos o do pai. Será que o Doutorzinho chegou a estudar medicina ou achou que isso também era um título - como a clínica, como o sobrenome, até mesmo alguns pobres pacientes - que foram herdados de seu pai?

Se em países que levam a sério a saúde de seus cidadãos a gente já encontra esse tipo de gente, imagine só numa terra como a nossa em que os hospitais públicos estão sucateados e os particulares fazem a festa. Todos em cima daqueles que não tem outra opção. Em dias como os nossos, aqui vai a dica: nunca, nunca peguem o livro do plano de saúde e escolham um médico ao léu. Peçam referências. Da mãe, do pai, dos amigos, vizinhos. Até dos sogros vale. De qualquer um, mesmo que você precise parar um desconhecido na rua para perguntar. Qualquer coisa é melhor do que se deparar com um Doutorzinho desses na sua frente, acreditem.

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