domingo, julho 18, 2010
O roteador que não roteava
Na sucursal havia diversos problemas de queda de conexão com a Internet. O diretor da sucursal, pessoa que se "orgulhava de ter uma vida fora da internet", um dia precisou enviar uma reportagem para São Paulo e a internet havia caído. Detalhe: sem perspectiva de retorno e já eram 21h. O prédio já não tinha funcionários. O diretor aprendeu a lição: "Precisamos ter um laptop". Parêntese: na visão do diretor, o laptop era tão-somente uma espécie de bote salva-vidas para o desktop. Tipo assim, digamos, na hora em que o desktop falhasse, o laptop salvaria todo mundo.
Não ocorreu, por exemplo, naquela mesma noite, que bastaria salvar a matéria num pen-drive ("pen o quê?") e ir numa lan-house, pronto, estava resolvido o problema.
Lá em São Paulo, o pessoal da matriz - para piorar tudo - achava "normal" isso. "Ué, caiu a internet, o que ele pode fazer?".
Ao lado do diretor, alguém ainda ressaltou. "Olha, o laptop é útil mas tem que ter roteador, senão não funcionará a internet".
Que beleza. Esta frase mudou tudo na cabeça do diretor e foi fundamental para que se estabelecesse o diálogo abaixo, entre o diretor da sucursal, que ganhava uns 15 mil reais por mês, e o técnico em informática que faturava lá seus 900 reais.
- Sr. Diretor, está tudo pronto, o laptop já está com tudo instalado. A memória é fraca, mas...
- Bom, não importa a memória, o que importa é que o laptop TENHA ROTEADOR.
- O senhor quer dizer, que ele tenha wireless para poder se conectar a um roteador, né?
- (....). Acho que é isso. Enfim, ele se conecta? É isso que eu quero saber.
- Sim, mas vai precisar de um roteador.
- Como assim? O laptop não veio com roteador?
- Não, o roteador é um aparelho externo. Os laptops de hoje vêm todos com wireless, com busca de rede sem fio.
- Pois então!O laptop vem com wireless, por que não se conectaria?
- (Expressão de cansaço)
- Seu técnico, o importante é o seguinte: a internet aqui cai toda hora. O laptop não é para ser usado o tempo todo, é para essa emergência.
- Sim, entendo, mas nessa emergência, a sua internet tem que vir de algum lugar.
- Ué, vem do roteador!
- Sr. diretor, entenda uma coisa: o laptop não é uma máquina que se conecta automaticamente e de graça. A conexão tem que vir de algum lugar.
- Se o senhor está dizendo que o roteador é um aparelho externo, então é só instalar um roteador e aí teremos a conexão de emergência?
- É quase isso. Vocês precisam ter uma conexão alternativa. Se o roteador estiver conectado na conexão que vocês usam normalmente, quando cair, o roteador obviamente pára de conectar junto.
- Como assim? Então não adiantou nada!
- Nem tanto, eu recomendaria que vocês tivessem uma placa de 3G.
- Meu Deus, esse laptop que a empresa comprou veio sem essa placa?
O diretor, pelo que me consta, desistiu. O técnico, me disseram anos depois, já teve alta e parou com o Rivotril.
Conhece alguma história parecida? Manda para a gente!
Não ocorreu, por exemplo, naquela mesma noite, que bastaria salvar a matéria num pen-drive ("pen o quê?") e ir numa lan-house, pronto, estava resolvido o problema.
Lá em São Paulo, o pessoal da matriz - para piorar tudo - achava "normal" isso. "Ué, caiu a internet, o que ele pode fazer?".
Ao lado do diretor, alguém ainda ressaltou. "Olha, o laptop é útil mas tem que ter roteador, senão não funcionará a internet".
Que beleza. Esta frase mudou tudo na cabeça do diretor e foi fundamental para que se estabelecesse o diálogo abaixo, entre o diretor da sucursal, que ganhava uns 15 mil reais por mês, e o técnico em informática que faturava lá seus 900 reais.
- Sr. Diretor, está tudo pronto, o laptop já está com tudo instalado. A memória é fraca, mas...
- Bom, não importa a memória, o que importa é que o laptop TENHA ROTEADOR.
- O senhor quer dizer, que ele tenha wireless para poder se conectar a um roteador, né?
- (....). Acho que é isso. Enfim, ele se conecta? É isso que eu quero saber.
- Sim, mas vai precisar de um roteador.
- Como assim? O laptop não veio com roteador?
- Não, o roteador é um aparelho externo. Os laptops de hoje vêm todos com wireless, com busca de rede sem fio.
- Pois então!O laptop vem com wireless, por que não se conectaria?
- (Expressão de cansaço)
- Seu técnico, o importante é o seguinte: a internet aqui cai toda hora. O laptop não é para ser usado o tempo todo, é para essa emergência.
- Sim, entendo, mas nessa emergência, a sua internet tem que vir de algum lugar.
- Ué, vem do roteador!
- Sr. diretor, entenda uma coisa: o laptop não é uma máquina que se conecta automaticamente e de graça. A conexão tem que vir de algum lugar.
- Se o senhor está dizendo que o roteador é um aparelho externo, então é só instalar um roteador e aí teremos a conexão de emergência?
- É quase isso. Vocês precisam ter uma conexão alternativa. Se o roteador estiver conectado na conexão que vocês usam normalmente, quando cair, o roteador obviamente pára de conectar junto.
- Como assim? Então não adiantou nada!
- Nem tanto, eu recomendaria que vocês tivessem uma placa de 3G.
- Meu Deus, esse laptop que a empresa comprou veio sem essa placa?
O diretor, pelo que me consta, desistiu. O técnico, me disseram anos depois, já teve alta e parou com o Rivotril.
Conhece alguma história parecida? Manda para a gente!
quarta-feira, outubro 01, 2003
Lama
Estagiária, ganhando uma miséria, um calor miserável e cheia de cólicas - daquelas mesmo, que muitas mulheres costumam ter mensalmente. Mas o chefe ignora completamente tudo isso e logo de manhã, quando você chega ao trabalho, faz a proposta indecente: "Quer ir até a Região dos Lagos ver um problema numa rodovia?". Na verdade você não quer ir. Mas também não pode recusar: "é uma oportunidade e tanto para você, menina!". Aham, sei, sei. Então eu vou, fazer o quê? O carro tá cheio, eu sou a única mulher entre os operários - que me olham com um certo estranhamento, com toda razão - e para melhorar tudo não tem ar condicionado. Depois de algumas horas o veículo para no acostamento: de um lado existe um lago, do outro, um barranco. É isso aí: você tem que descer o barranco enquanto escuta as explicações: "Ah, o problema é que esse lago aí não existia. Era um barranco. A água escoava para o outro lado através de um túnel que passa por debaixo da rodovia. Só que choveu muito, o túnel está entupido com lama e nós estamos tentando resolver." Muito tranquilizador. Chego lá embaixo com certa dificuldade e vejo a cena maravilhosa: lama pra tudo quanto é lado. Talvez o termo certo nem fosse lama - parecia mesmo montes e montes de argila, daquelas de se moldar. Já tinham começado a desentupir - e para tanto utilizavam uma parafernália, um jato d'água de alta pressão que, pelo menos à primeira vista, parecia só estar piorando a situação. Olhando com mais cuidado dava para ver o estrago, ops, a solução: o túnel reaparecendo, se transformando num buraco de tatu gigantesco sob o morro, água jorrando para tudo quanto é lado. Eu já estava até conformada em ficar ali, ao Sol, olhando tudo durante a tarde inteira. Então o chefe faz o convite, o convite que eu estava morrendo de medo de ouvir: "E aí, Marcele? Vamos entrar no túnel?". Aquele túnel, aquele túnel que tem na entrada uns oitenta centímetros de diâmetro, mais ou menos. E quando você esboça fazer uma recusa, ele diz novamente: "claro que quer, né? veio aqui pra isso!". As instruções e advertências: tirar o par de tênis e coloca as botas ("olhem só, as meias dela que bonitinhas, tem florzinhas" você escuta alguém que não te conhece zombar de você, com mais pessoas gargalhando, ao fundo); não se apavorar lá dentro; e, finalmente, o pior de tudo: "ó, já que nós estamos escavando até um lago, existe o perigo da parede estourar e a água invadir o túnel. Caso isso aconteça, não tenta nadar, não: prende a respiração e deixa a água te levar." A lama me levar, né? Aham. Eu entro, mas desisto no meio do caminho, para escutar mais zombações: "Ah. Você não conseguiu! hahahahahaha". E isso tudo, vale lembrar, com cólicas. Muitas cólicas. Ainda tem gente que estranha eu não ter seguido nessa carreira. Por que será?
Estagiária, ganhando uma miséria, um calor miserável e cheia de cólicas - daquelas mesmo, que muitas mulheres costumam ter mensalmente. Mas o chefe ignora completamente tudo isso e logo de manhã, quando você chega ao trabalho, faz a proposta indecente: "Quer ir até a Região dos Lagos ver um problema numa rodovia?". Na verdade você não quer ir. Mas também não pode recusar: "é uma oportunidade e tanto para você, menina!". Aham, sei, sei. Então eu vou, fazer o quê? O carro tá cheio, eu sou a única mulher entre os operários - que me olham com um certo estranhamento, com toda razão - e para melhorar tudo não tem ar condicionado. Depois de algumas horas o veículo para no acostamento: de um lado existe um lago, do outro, um barranco. É isso aí: você tem que descer o barranco enquanto escuta as explicações: "Ah, o problema é que esse lago aí não existia. Era um barranco. A água escoava para o outro lado através de um túnel que passa por debaixo da rodovia. Só que choveu muito, o túnel está entupido com lama e nós estamos tentando resolver." Muito tranquilizador. Chego lá embaixo com certa dificuldade e vejo a cena maravilhosa: lama pra tudo quanto é lado. Talvez o termo certo nem fosse lama - parecia mesmo montes e montes de argila, daquelas de se moldar. Já tinham começado a desentupir - e para tanto utilizavam uma parafernália, um jato d'água de alta pressão que, pelo menos à primeira vista, parecia só estar piorando a situação. Olhando com mais cuidado dava para ver o estrago, ops, a solução: o túnel reaparecendo, se transformando num buraco de tatu gigantesco sob o morro, água jorrando para tudo quanto é lado. Eu já estava até conformada em ficar ali, ao Sol, olhando tudo durante a tarde inteira. Então o chefe faz o convite, o convite que eu estava morrendo de medo de ouvir: "E aí, Marcele? Vamos entrar no túnel?". Aquele túnel, aquele túnel que tem na entrada uns oitenta centímetros de diâmetro, mais ou menos. E quando você esboça fazer uma recusa, ele diz novamente: "claro que quer, né? veio aqui pra isso!". As instruções e advertências: tirar o par de tênis e coloca as botas ("olhem só, as meias dela que bonitinhas, tem florzinhas" você escuta alguém que não te conhece zombar de você, com mais pessoas gargalhando, ao fundo); não se apavorar lá dentro; e, finalmente, o pior de tudo: "ó, já que nós estamos escavando até um lago, existe o perigo da parede estourar e a água invadir o túnel. Caso isso aconteça, não tenta nadar, não: prende a respiração e deixa a água te levar." A lama me levar, né? Aham. Eu entro, mas desisto no meio do caminho, para escutar mais zombações: "Ah. Você não conseguiu! hahahahahaha". E isso tudo, vale lembrar, com cólicas. Muitas cólicas. Ainda tem gente que estranha eu não ter seguido nessa carreira. Por que será?
sábado, setembro 06, 2003
Médicos
- Sinovite.
- Anh?! Sinusite?
- Não. Sinovite. Inflamação na membrana que recobre a bacia.
Até que não era um diagnóstico grave para quem sentia dores fortes ininterruptas no lado direito das costas. "Inflamação na membrana que recobre a bacia". Então, tá bom. Fisioterapia, remédios caros comprados. Enfim: todas as recomendações médicas obedecidas direitinho. Pena que não era o diagnóstico certo. E pena que depois de duas semanas seguindo corretamente as ordens médicas que estavam erradas, o quadro se agravou. Muito. As dores fortes se tornaram lancinantes. E continuavam tão ininterruptas como antes. Tem certas horas que é melhor ser um paciente desobediente.
Médico novo, vida nova: "você tem uma hérnia de disco". E das graves. O "vida nova" não é força de expressão. Repouso absoluto por, pelo menos, dois meses. Fisioterapia? Nem pensar. Remédios - caros - em doses cavalares. Dieta digna de um monge no Tibet: "você não pode ficar acima do peso de jeito nenhum; e vamos torcer para que o tratamento dê certo e a cirurgia não seja necessária", disse o Doutor. Eu torço, o dono da hérnia - o Gustavo, meu namorado e companheiro de blog - torce. Todo mundo torce.
Menos o primeiro Doutorzinho, aquele do diagnóstico errado que fez o quadro se agravar . Filho de médico famoso, ortopedista de clube que já pertenceu a terceira divisão carioca (e cá entre nós, quem já foi de terceira é de terceira pra sempre, pelo menos no futebol, onde todos os preconceitos com os times alheios são válidos). O consultório dele, numa clínica que leva o nome do pai famoso - que já morreu - é uma beleza. A cadeira em que o Doutorzinho se senta é um verdadeiro trono. A dos pacientes, confortáveis. A mesa que separava os mortais sofredores de sua Majestade, gigantesca, para garantir a distância entre a realeza e a ralé.
Médico que não encosta no paciente nem para cumprimentar não pode ser confiável. Ou vocês já viram ortopedista que não coloca a mão no paciente para examiná-lo? Outra característica interessantíssima no consultório do Doutorzinho eram os diplomas emoldurados na parede. Dezenas deles. Verdadeiros troféus. Pena que nenhum carregasse o seu nome, mas todos o do pai. Será que o Doutorzinho chegou a estudar medicina ou achou que isso também era um título - como a clínica, como o sobrenome, até mesmo alguns pobres pacientes - que foram herdados de seu pai?
Se em países que levam a sério a saúde de seus cidadãos a gente já encontra esse tipo de gente, imagine só numa terra como a nossa em que os hospitais públicos estão sucateados e os particulares fazem a festa. Todos em cima daqueles que não tem outra opção. Em dias como os nossos, aqui vai a dica: nunca, nunca peguem o livro do plano de saúde e escolham um médico ao léu. Peçam referências. Da mãe, do pai, dos amigos, vizinhos. Até dos sogros vale. De qualquer um, mesmo que você precise parar um desconhecido na rua para perguntar. Qualquer coisa é melhor do que se deparar com um Doutorzinho desses na sua frente, acreditem.
- Sinovite.
- Anh?! Sinusite?
- Não. Sinovite. Inflamação na membrana que recobre a bacia.
Até que não era um diagnóstico grave para quem sentia dores fortes ininterruptas no lado direito das costas. "Inflamação na membrana que recobre a bacia". Então, tá bom. Fisioterapia, remédios caros comprados. Enfim: todas as recomendações médicas obedecidas direitinho. Pena que não era o diagnóstico certo. E pena que depois de duas semanas seguindo corretamente as ordens médicas que estavam erradas, o quadro se agravou. Muito. As dores fortes se tornaram lancinantes. E continuavam tão ininterruptas como antes. Tem certas horas que é melhor ser um paciente desobediente.
Médico novo, vida nova: "você tem uma hérnia de disco". E das graves. O "vida nova" não é força de expressão. Repouso absoluto por, pelo menos, dois meses. Fisioterapia? Nem pensar. Remédios - caros - em doses cavalares. Dieta digna de um monge no Tibet: "você não pode ficar acima do peso de jeito nenhum; e vamos torcer para que o tratamento dê certo e a cirurgia não seja necessária", disse o Doutor. Eu torço, o dono da hérnia - o Gustavo, meu namorado e companheiro de blog - torce. Todo mundo torce.
Menos o primeiro Doutorzinho, aquele do diagnóstico errado que fez o quadro se agravar . Filho de médico famoso, ortopedista de clube que já pertenceu a terceira divisão carioca (e cá entre nós, quem já foi de terceira é de terceira pra sempre, pelo menos no futebol, onde todos os preconceitos com os times alheios são válidos). O consultório dele, numa clínica que leva o nome do pai famoso - que já morreu - é uma beleza. A cadeira em que o Doutorzinho se senta é um verdadeiro trono. A dos pacientes, confortáveis. A mesa que separava os mortais sofredores de sua Majestade, gigantesca, para garantir a distância entre a realeza e a ralé.
Médico que não encosta no paciente nem para cumprimentar não pode ser confiável. Ou vocês já viram ortopedista que não coloca a mão no paciente para examiná-lo? Outra característica interessantíssima no consultório do Doutorzinho eram os diplomas emoldurados na parede. Dezenas deles. Verdadeiros troféus. Pena que nenhum carregasse o seu nome, mas todos o do pai. Será que o Doutorzinho chegou a estudar medicina ou achou que isso também era um título - como a clínica, como o sobrenome, até mesmo alguns pobres pacientes - que foram herdados de seu pai?
Se em países que levam a sério a saúde de seus cidadãos a gente já encontra esse tipo de gente, imagine só numa terra como a nossa em que os hospitais públicos estão sucateados e os particulares fazem a festa. Todos em cima daqueles que não tem outra opção. Em dias como os nossos, aqui vai a dica: nunca, nunca peguem o livro do plano de saúde e escolham um médico ao léu. Peçam referências. Da mãe, do pai, dos amigos, vizinhos. Até dos sogros vale. De qualquer um, mesmo que você precise parar um desconhecido na rua para perguntar. Qualquer coisa é melhor do que se deparar com um Doutorzinho desses na sua frente, acreditem.
quinta-feira, julho 17, 2003
Desespero
Mas você também pode chamar de "economia". Ou, quem sabe, "corte de custos" (não da parte do patrão, mas dos funcionários que ganham uma merreca). Diretamente de um diário na Cidade Nova para o RH Negativo:
Imaginem só o que leva alguém a roubar adoçante do trabalho...
Mas você também pode chamar de "economia". Ou, quem sabe, "corte de custos" (não da parte do patrão, mas dos funcionários que ganham uma merreca). Diretamente de um diário na Cidade Nova para o RH Negativo:
Imaginem só o que leva alguém a roubar adoçante do trabalho...
Estagiários (ou seriam escravos?)
Tá, tá, não é nenhuma grande novidade que estagiários quase sempre trabalham como os funcionários e ganham muito menos. Mas ver isso assim, claramente, como no email abaixo (que o Gustavo recebeu de uma Grande Agência de Empregos Online) é, realmente, uma coisa linda. Só seria melhor se o autor do texto soubesse acentuar as palavras.
Ola Sr(a). Gustavo de Almeida, do(a) EMPRE$A, conheça algumas vantagens em contratar estagiários e saiba como podemos ajuda-lo a encontrar os melhores estagiários para sua empresa.
Vantagens em contratar um estagiário:
- São funcionários interessados e com toda a energia para demonstrar suas habilidades e talento.
- Ao contratar um Estagiário você estará livre de encargos e vínculos empregatícios.
- O remuneração de um estagiário é bem menor (até 8 vezes) do que de um profissional comum.
Perfil dos estagiários da CXXXX online:
- A CXXXX possui mais de 11.000 currículos de estagiários.
- 77% são usuários de Word e 74% de Excel.
- 60,47% possuem Inglês intermediário ou fluênte.
- Nossos estagiários estudam nas melhores universidades do país (USP, FGV, UNESP, PUC, UFRJ, UFPR, UNICAMP, UFRS).
- O anuncio é Totalmente gratuíto.
- Comodidade e possibilidade de aplicar filtros: como ano de formação e idiomas.
Vantagens em recrutar pela CXXXX:
- Maior exposição, o site da CXXXX é visitado por mais de 60 mil pessoas diariamente
- Rápidez, no mesmo dia você já começa a receber currículos dos candidatos, mais eficaz do que o jornal ou qualquer outro meio de divulgação.
- Não entope sua caixa postal, os currículos podem ficar disponíveis em nosso site, e você separa os favoritos e os envia para seu email, ou recebe todos por email diretamente.
- Ferramentas pré-seleção, você faz uma entrevista com os candidatos e aplica filtros, separando os currículos por: área profissional, região, cargo e questionários. Antes de receber os currículos. Assim você só recebe os currículos dos candidatos que realmente estâo no perfil procurado.
Atenciosamente,
Fulano de Tal,
Gerente de Vagas Espontâneas
fulanodetal@cxxxx.com.br
Tá, tá, não é nenhuma grande novidade que estagiários quase sempre trabalham como os funcionários e ganham muito menos. Mas ver isso assim, claramente, como no email abaixo (que o Gustavo recebeu de uma Grande Agência de Empregos Online) é, realmente, uma coisa linda. Só seria melhor se o autor do texto soubesse acentuar as palavras.
Ola Sr(a). Gustavo de Almeida, do(a) EMPRE$A, conheça algumas vantagens em contratar estagiários e saiba como podemos ajuda-lo a encontrar os melhores estagiários para sua empresa.
Vantagens em contratar um estagiário:
- São funcionários interessados e com toda a energia para demonstrar suas habilidades e talento.
- Ao contratar um Estagiário você estará livre de encargos e vínculos empregatícios.
- O remuneração de um estagiário é bem menor (até 8 vezes) do que de um profissional comum.
Perfil dos estagiários da CXXXX online:
- A CXXXX possui mais de 11.000 currículos de estagiários.
- 77% são usuários de Word e 74% de Excel.
- 60,47% possuem Inglês intermediário ou fluênte.
- Nossos estagiários estudam nas melhores universidades do país (USP, FGV, UNESP, PUC, UFRJ, UFPR, UNICAMP, UFRS).
- O anuncio é Totalmente gratuíto.
- Comodidade e possibilidade de aplicar filtros: como ano de formação e idiomas.
Vantagens em recrutar pela CXXXX:
- Maior exposição, o site da CXXXX é visitado por mais de 60 mil pessoas diariamente
- Rápidez, no mesmo dia você já começa a receber currículos dos candidatos, mais eficaz do que o jornal ou qualquer outro meio de divulgação.
- Não entope sua caixa postal, os currículos podem ficar disponíveis em nosso site, e você separa os favoritos e os envia para seu email, ou recebe todos por email diretamente.
- Ferramentas pré-seleção, você faz uma entrevista com os candidatos e aplica filtros, separando os currículos por: área profissional, região, cargo e questionários. Antes de receber os currículos. Assim você só recebe os currículos dos candidatos que realmente estâo no perfil procurado.
Atenciosamente,
Fulano de Tal,
Gerente de Vagas Espontâneas
fulanodetal@cxxxx.com.br
terça-feira, junho 10, 2003
Emails exóticos
O email corporativo é sem dúvida uma grande contribuição da tecnologia ao non-sense, à loucura e à cara-de-pau. Exemplo disso é essa colaboração de um leitor do RH Negativo. Foi enviado por uma diretora de Marketing de um importante site noticioso.
De: Diretora de Marketing
Para: Grupo Sicrano
Data: Quinta-feira, 10:54
Assunto: É campeã! É campeã! É campeã!
Esta turma toda é campeã e merece parabéns e muito mais.
Por enquanto vão os parabéns!
Abração
O email corporativo é sem dúvida uma grande contribuição da tecnologia ao non-sense, à loucura e à cara-de-pau. Exemplo disso é essa colaboração de um leitor do RH Negativo. Foi enviado por uma diretora de Marketing de um importante site noticioso.
De: Diretora de Marketing
Para: Grupo Sicrano
Data: Quinta-feira, 10:54
Assunto: É campeã! É campeã! É campeã!
Esta turma toda é campeã e merece parabéns e muito mais.
Por enquanto vão os parabéns!
Abração
quarta-feira, maio 14, 2003
Serviço de Informações da Disneylândia, ops, Uberlândia
(enviada por Daniel Kaz)
A Telemar inventou um sistema de atendimento eletrônico que é uma das coisas mais irritantes que existe. Parece filme de ficção científica. Você responde a perguntas de uma gravação, um computador reconhece sua resposta e vai avançando. É lógico que o negócio não funciona.
Comigo aconteceu assim:
Liguei para o serviço de informações de Uberlândia (quem quiser conferir, o número é 0**34 121) e atendeu a tal voz eletrônica:
- Você deseja informação de qual cidade?
Passada a surpresa de estar conversando com uma gravação, respondi:
- Uberlândia.
- A informação que você deseja é de comércio, residência ou profissional liberal? Se não estiver entendendo, diga "ajuda".
Eu queria saber o telefone de um hotel, que não é comércio, nem residência e nem profissional liberal. O jeito foi dizer:
- Ajuda.
A "resposta" da máquina foi inacreditável:
- Se você deseja saber o telefone de um estabelecimento comercial, diga "comércio". Se você deseja saber o telefone de uma residência, diga "residência". Se você deseja saber o telefone de um médico ou advogado, diga "profissional liberal".
Até aí, deu na mesma. Em seguida, a voz disse:
Se você não deseja o telefone de nenhum desses itens, diga "outro".
- Outro - disse eu.
- Não entendi - respondeu a máquina, para em seguida começar a repetir tudo o que já tinha dito antes.
Moral da história: me deram o telefone de uma padaria.
(enviada por Daniel Kaz)
A Telemar inventou um sistema de atendimento eletrônico que é uma das coisas mais irritantes que existe. Parece filme de ficção científica. Você responde a perguntas de uma gravação, um computador reconhece sua resposta e vai avançando. É lógico que o negócio não funciona.
Comigo aconteceu assim:
Liguei para o serviço de informações de Uberlândia (quem quiser conferir, o número é 0**34 121) e atendeu a tal voz eletrônica:
- Você deseja informação de qual cidade?
Passada a surpresa de estar conversando com uma gravação, respondi:
- Uberlândia.
- A informação que você deseja é de comércio, residência ou profissional liberal? Se não estiver entendendo, diga "ajuda".
Eu queria saber o telefone de um hotel, que não é comércio, nem residência e nem profissional liberal. O jeito foi dizer:
- Ajuda.
A "resposta" da máquina foi inacreditável:
- Se você deseja saber o telefone de um estabelecimento comercial, diga "comércio". Se você deseja saber o telefone de uma residência, diga "residência". Se você deseja saber o telefone de um médico ou advogado, diga "profissional liberal".
Até aí, deu na mesma. Em seguida, a voz disse:
Se você não deseja o telefone de nenhum desses itens, diga "outro".
- Outro - disse eu.
- Não entendi - respondeu a máquina, para em seguida começar a repetir tudo o que já tinha dito antes.
Moral da história: me deram o telefone de uma padaria.
terça-feira, maio 13, 2003
Dia das Mães, 2
Mas podia ser Páscoa, Natal ou qualquer outra data em que comprar se torna uma verdadeira compulsão. Numa grande loja de departamentos, vou até o setor de CDs escolher alguns e só depois percebo que os que quero estão fora. Para pagar (e as caixas para CDs são dentro do "curral"), terei de passar por aqueles detectores anti roubo - que, óbvio - apitam. Ninguém parece ligar e eu continuo. Vou até o caixa. Uma pessoa na minha frente. "Beleza, sem filas!", penso eu, ingenuamente. Mas eu quero comprar mais coisas, lá fora. Então resolvo perguntar para a caixa, educadamente: "oi, eu posso pagar as coisas lá fora?". Ela parece concentrada demais procurando alguma coisa e não me escuta. A pessoa que estava na minha frente na fila, um homem, finalmente, me explica:
- Ela tá procurando o caderninho.
- Caderninho?
- É, caderninho. Onde elas anotam os CDs vendidos...
Então, escuto a própria atendente falar para uma colega: "não consigo encontrar esse caderno de jeito nenhum!". O cara não estava me sacaneando: elas realmente anotam as vendas num caderninho. Eu não resisto e começo a rir. Comento com a outra testemunha, que está rindo - assim como eu - daquela cena tão incomum no século 21:
- Isso sim é que é tecnologia...
- Ô... o bom é que isso tudo aqui (e aponta para vários computadores que deveriam servir para o registro das vendas) serve como enfeite, né?
Finalmente, chega um outro vendedor e eu pergunto: "oi, posso pagar lá fora?" e ele me responde:
- Se for até R$19,90; pode.
E o meu colega de fila completa: "mas se for por R$20,00, não pode". Novamente, era verdade. Como, felizmente, os CDs que eu iria comprar custavam R$19,90, pude pagar lá fora. Pena que eles não tiraram o lacre de proteção anti roubo. Não, nenhum detector apitou quando eu saí, nenhum brutamontes me segurou, nada disso. Mas a minha mãe e a minha sogra tiveram de usar de chaves de fenda, facas, martelos e serrotes para conseguirem tirar aquelas porcarias de lacres de segurança e ouvirem em paz os seus presentes.
Mas podia ser Páscoa, Natal ou qualquer outra data em que comprar se torna uma verdadeira compulsão. Numa grande loja de departamentos, vou até o setor de CDs escolher alguns e só depois percebo que os que quero estão fora. Para pagar (e as caixas para CDs são dentro do "curral"), terei de passar por aqueles detectores anti roubo - que, óbvio - apitam. Ninguém parece ligar e eu continuo. Vou até o caixa. Uma pessoa na minha frente. "Beleza, sem filas!", penso eu, ingenuamente. Mas eu quero comprar mais coisas, lá fora. Então resolvo perguntar para a caixa, educadamente: "oi, eu posso pagar as coisas lá fora?". Ela parece concentrada demais procurando alguma coisa e não me escuta. A pessoa que estava na minha frente na fila, um homem, finalmente, me explica:
- Ela tá procurando o caderninho.
- Caderninho?
- É, caderninho. Onde elas anotam os CDs vendidos...
Então, escuto a própria atendente falar para uma colega: "não consigo encontrar esse caderno de jeito nenhum!". O cara não estava me sacaneando: elas realmente anotam as vendas num caderninho. Eu não resisto e começo a rir. Comento com a outra testemunha, que está rindo - assim como eu - daquela cena tão incomum no século 21:
- Isso sim é que é tecnologia...
- Ô... o bom é que isso tudo aqui (e aponta para vários computadores que deveriam servir para o registro das vendas) serve como enfeite, né?
Finalmente, chega um outro vendedor e eu pergunto: "oi, posso pagar lá fora?" e ele me responde:
- Se for até R$19,90; pode.
E o meu colega de fila completa: "mas se for por R$20,00, não pode". Novamente, era verdade. Como, felizmente, os CDs que eu iria comprar custavam R$19,90, pude pagar lá fora. Pena que eles não tiraram o lacre de proteção anti roubo. Não, nenhum detector apitou quando eu saí, nenhum brutamontes me segurou, nada disso. Mas a minha mãe e a minha sogra tiveram de usar de chaves de fenda, facas, martelos e serrotes para conseguirem tirar aquelas porcarias de lacres de segurança e ouvirem em paz os seus presentes.
domingo, maio 11, 2003
Ah, o Dia das Mães...
Lojas lotadas, clientes apressados, compras em cima da hora - são ingredientes perfeitos para histórias que se encaixam como uma luva no RH NEGATIVO. Os pobres vendedores, oprimidos por gerentes loucos, salários baixos e jornada de trabalho massacrante, tomam decisões e protagonizam cenas sensacionais.
Nas Lojas XXXXX, no Botafogo Praia Shopping:
- Onde ficam os telefones?
- Olha, tem que ligar de telefone público, aqui não podemos liberar para ligação de cliente.
- Não, eu quero comprar um telefone.
- Ah, sim. Ficam no final desse corredor, à esquerda.
Chegando - ou tentando chegar - no local, havia uma fila enorme para pagar CDs, pois a tal loja tem uma seção independente dentro. Se o cara sair com mercadoria lá de dentro, o dedo-duro eletrônico apita. Só que a fila impedia qualquer cliente de chegar aos telefones. As pessoas aguardavam a vez. Havia uns quatro caixas vazios, apenas uma pessoa atendendo. A fila tinha umas 25 pessoas.
Só havia telefones com fio.
- Ei, você sabe onde estão os telefones sem fio?
- Nessa prateleira aí tem os tel...
- Sim, eu sei, mas só tem os com fio.
- Ué? Não tem sem fio?
- É o que estou te perguntando....
Desistência, claro. Apela-se para uma outra grande magazine (lembra do tempo em que se chamava "mega store" de magazine? Magazine Helal, etc), ao lado do Shopping, em Botafogo.
Está lá o tão sonhado telefone sem fio.
- Você tem que pagar primeiro.
- Claro. Mas aonde? Aqui?
- Não, lá no caixa.
- No caixa? Mas eu vou fazer outras compras, vou ter que entrar aqui de novo com a sacola carregada? (a loja estava inacreditavelmente lotada).
- Sim, senhor.
E assim foi feito, entre centenas de clientes apressados. Nessas horas me lembro da frase do coronel Bruce Henderson, do seriado "Wild Hunter": "No espaço urbano, nada, nada substitui o taco de beisebol.
Lojas lotadas, clientes apressados, compras em cima da hora - são ingredientes perfeitos para histórias que se encaixam como uma luva no RH NEGATIVO. Os pobres vendedores, oprimidos por gerentes loucos, salários baixos e jornada de trabalho massacrante, tomam decisões e protagonizam cenas sensacionais.
Nas Lojas XXXXX, no Botafogo Praia Shopping:
- Onde ficam os telefones?
- Olha, tem que ligar de telefone público, aqui não podemos liberar para ligação de cliente.
- Não, eu quero comprar um telefone.
- Ah, sim. Ficam no final desse corredor, à esquerda.
Chegando - ou tentando chegar - no local, havia uma fila enorme para pagar CDs, pois a tal loja tem uma seção independente dentro. Se o cara sair com mercadoria lá de dentro, o dedo-duro eletrônico apita. Só que a fila impedia qualquer cliente de chegar aos telefones. As pessoas aguardavam a vez. Havia uns quatro caixas vazios, apenas uma pessoa atendendo. A fila tinha umas 25 pessoas.
Só havia telefones com fio.
- Ei, você sabe onde estão os telefones sem fio?
- Nessa prateleira aí tem os tel...
- Sim, eu sei, mas só tem os com fio.
- Ué? Não tem sem fio?
- É o que estou te perguntando....
Desistência, claro. Apela-se para uma outra grande magazine (lembra do tempo em que se chamava "mega store" de magazine? Magazine Helal, etc), ao lado do Shopping, em Botafogo.
Está lá o tão sonhado telefone sem fio.
- Você tem que pagar primeiro.
- Claro. Mas aonde? Aqui?
- Não, lá no caixa.
- No caixa? Mas eu vou fazer outras compras, vou ter que entrar aqui de novo com a sacola carregada? (a loja estava inacreditavelmente lotada).
- Sim, senhor.
E assim foi feito, entre centenas de clientes apressados. Nessas horas me lembro da frase do coronel Bruce Henderson, do seriado "Wild Hunter": "No espaço urbano, nada, nada substitui o taco de beisebol.
terça-feira, maio 06, 2003
Acerto de contas
Fim do mês. A minha amiga é chamada na sala da gerente e, claro, pensa logo o pior: "vou ser demitida". O diálogo que acontece é esse:
- Olha, eu não sei o que faço com você.
- Não sabe? Por que?
- Olha aqui a sua folha de ponto.
- Tem alguma coisa errada?
- Você tá devendo pra gente três horas e cinquenta e cinco minutos.
- Anh? Tudo isso? Mas... por causa dos atrasos?
- Aham.
- Você tem certeza?
- Tenho.
- Ué, se tem certeza, desconta.
- Não, mas a gente não quer fazer isso...
- Olha, não vai ser um favor. Se eu me atrasei, vocês descontam. Simples.
- Mas a gente precisa conversar...
Conversam. A folha de ponto é analisada novamente.
- Por que você chegou uma hora mais tarde naqueles dias?
- Ué... Porque me mandaram chegar uma hora mais tarde.
- Te mandaram?
- Sim, mandaram.
- Não me avisaram nada!
Depois, continuando:
- Mas nesses outros dias aqui, por que você chegou uma hora atrasada?
- Eu não cheguei uma hora atrasada.
- Não chegou?
- Não, não cheguei. Pode perguntar pra qualquer um. A folha tá errada!
Depois de um pedido de desculpas, o resultado: a empresa é que está devendo para a minha amiga. Só quinze minutos, mas está.
Fim do mês. A minha amiga é chamada na sala da gerente e, claro, pensa logo o pior: "vou ser demitida". O diálogo que acontece é esse:
- Olha, eu não sei o que faço com você.
- Não sabe? Por que?
- Olha aqui a sua folha de ponto.
- Tem alguma coisa errada?
- Você tá devendo pra gente três horas e cinquenta e cinco minutos.
- Anh? Tudo isso? Mas... por causa dos atrasos?
- Aham.
- Você tem certeza?
- Tenho.
- Ué, se tem certeza, desconta.
- Não, mas a gente não quer fazer isso...
- Olha, não vai ser um favor. Se eu me atrasei, vocês descontam. Simples.
- Mas a gente precisa conversar...
Conversam. A folha de ponto é analisada novamente.
- Por que você chegou uma hora mais tarde naqueles dias?
- Ué... Porque me mandaram chegar uma hora mais tarde.
- Te mandaram?
- Sim, mandaram.
- Não me avisaram nada!
Depois, continuando:
- Mas nesses outros dias aqui, por que você chegou uma hora atrasada?
- Eu não cheguei uma hora atrasada.
- Não chegou?
- Não, não cheguei. Pode perguntar pra qualquer um. A folha tá errada!
Depois de um pedido de desculpas, o resultado: a empresa é que está devendo para a minha amiga. Só quinze minutos, mas está.
sexta-feira, maio 02, 2003
Escala
Aconteceu com um amigo meu. Nessa última segunda feira, ele viu que a escala de horários da empresa tinha sido colocada no quadro e foi até lá, dar uma olhada. Estavam devendo uma folga pra ele, e a colocaram bem na quarta feira, véspera do dia 1° de maio, feriado. Uma quinta feira que não tinha nenhum trabalho extra e no entanto, ninguém folgando. Ele acabou resolvendo arriscar a sorte e pedir para o gerente de RH:
- Poxa, vocês colocaram a minha folga na quarta feira... Não podem transferir para a quinta feira, já que é feriado?
- Olha, eu vou dar uma olhada, se não tiver problema, coloco sim.
- Eu acho que não tem nenhum problema, afinal, não tem ninguém folgando.
- Pode deixar. Não esquece de me perguntar amanhã antes de ir embora a respeito, tá bom?
- Tá bom.
No dia seguinte ele chega na empresa e dá uma olhada no quadro. Agora tinham dois funcionários folgando na quinta feira - claro, não ele. Logo depois, o gerente pediu para conversarem:
- Poxa, eu até queria colocar você na quinta feira. Mas achei melhor colocar na quarta, pra não complicar, sabe? Acabei colocando aqueles outros dois funcionários porque também estava devendo dias para eles, e como você me avisou que não tinha ninguém folgando...
Aconteceu com um amigo meu. Nessa última segunda feira, ele viu que a escala de horários da empresa tinha sido colocada no quadro e foi até lá, dar uma olhada. Estavam devendo uma folga pra ele, e a colocaram bem na quarta feira, véspera do dia 1° de maio, feriado. Uma quinta feira que não tinha nenhum trabalho extra e no entanto, ninguém folgando. Ele acabou resolvendo arriscar a sorte e pedir para o gerente de RH:
- Poxa, vocês colocaram a minha folga na quarta feira... Não podem transferir para a quinta feira, já que é feriado?
- Olha, eu vou dar uma olhada, se não tiver problema, coloco sim.
- Eu acho que não tem nenhum problema, afinal, não tem ninguém folgando.
- Pode deixar. Não esquece de me perguntar amanhã antes de ir embora a respeito, tá bom?
- Tá bom.
No dia seguinte ele chega na empresa e dá uma olhada no quadro. Agora tinham dois funcionários folgando na quinta feira - claro, não ele. Logo depois, o gerente pediu para conversarem:
- Poxa, eu até queria colocar você na quinta feira. Mas achei melhor colocar na quarta, pra não complicar, sabe? Acabei colocando aqueles outros dois funcionários porque também estava devendo dias para eles, e como você me avisou que não tinha ninguém folgando...
Matrícula
Escola de natação. Eu sei nadar, mas queria treinar, praticar algum esporte, acabar com a vida sedentária... Enfim. Isso há alguns meses, quando eu ainda tinha tempo extra. Vi uma academia especializada em natação aqui em Copacabana e fui me informar sobre os preços, documentos necessários para a matrícula e etc.:
- Oi. Qual é o preço da matrícula?
- R$XXX,XX.
- E o da mensalidade?
- R$XXX,XX.
- Você sabe me dizer todos os horários disponíveis?
- Ah, estão nesse panfleto, aqui.
- Obrigada! Tem algum tipo de nivelamento das turmas, tem que fazer algum teste?
- Er... Você sabe nadar?
- Sei.
- Ah, então não pode se matricular, não.
- Não posso?
- Não.
- Mas não é uma academia de natação?
- É, mas só pode se matricular quem não sabe nadar.
- Quem quiser só treinar, não pode?
- Não.
Eu desisti. Dei meia volta e desisti. Mas fiquei com algumas dúvidas:
1) Como eles avaliam quem sabe nadar ou não? Jogam o quase-futuro-aluno na piscina pra ver se ele se afoga?
2) Quando o aluno aprende a nadar, o que fazem com ele? Expulsam?
(eu contei essa história há mais de um ano no agridoce; se alguém leu por lá, é bom avisar: não, você não está tendo um deja vu)
Escola de natação. Eu sei nadar, mas queria treinar, praticar algum esporte, acabar com a vida sedentária... Enfim. Isso há alguns meses, quando eu ainda tinha tempo extra. Vi uma academia especializada em natação aqui em Copacabana e fui me informar sobre os preços, documentos necessários para a matrícula e etc.:
- Oi. Qual é o preço da matrícula?
- R$XXX,XX.
- E o da mensalidade?
- R$XXX,XX.
- Você sabe me dizer todos os horários disponíveis?
- Ah, estão nesse panfleto, aqui.
- Obrigada! Tem algum tipo de nivelamento das turmas, tem que fazer algum teste?
- Er... Você sabe nadar?
- Sei.
- Ah, então não pode se matricular, não.
- Não posso?
- Não.
- Mas não é uma academia de natação?
- É, mas só pode se matricular quem não sabe nadar.
- Quem quiser só treinar, não pode?
- Não.
Eu desisti. Dei meia volta e desisti. Mas fiquei com algumas dúvidas:
1) Como eles avaliam quem sabe nadar ou não? Jogam o quase-futuro-aluno na piscina pra ver se ele se afoga?
2) Quando o aluno aprende a nadar, o que fazem com ele? Expulsam?
(eu contei essa história há mais de um ano no agridoce; se alguém leu por lá, é bom avisar: não, você não está tendo um deja vu)
quarta-feira, abril 30, 2003
O vale-alface
Essa é espetacular, me foi enviada recentemente por um leitor (demorei a publicar, peço desculpas a ele). Ocorre que em determinada empresa carioca, os tíquetes-refeição tinham valor de face de R$ 6 desde 1996, e por causa disso já iam se transformando em moedas podres.
Um enorme movimento começou a crescer entre os funcionários, para tentar aumentar o valor, nem que fosse em um real - afinal, em um restaurante a quilo hoje em dia, R$ 6 garantem uma alimentação rica, mas a base de folhas e algodão doce.
Voluntários realizaram um enorme levantamento, com preços de diversas comidas em todos os estabelecimentos comerciais da região. Pegaram preços de quilo de comida, de média de pratos, e em alguns balanços incluíram até a sobremesa.
Tudo isso, claro, sem consultar antes o Recursos Humanos da empresa. Um erro, a meu ver, fatal. Uma breve consulta e todo esse enorme trabalho poderia ser poupado.
Afinal, na hora de entregar o levantamento, a analista de RH perguntou o que era o envelope.
- Ah, é o levantamento que fizemos solicitando o aumento do valor do tíquete-refeição - disse o sujeito encarregado de colocar o guizo no pescoço do gato.
- Aumento? Pra quê? - respondeu, genialmente, a analista de RH, consumidora voraz de levíssimas alfaces diárias.
Essa é espetacular, me foi enviada recentemente por um leitor (demorei a publicar, peço desculpas a ele). Ocorre que em determinada empresa carioca, os tíquetes-refeição tinham valor de face de R$ 6 desde 1996, e por causa disso já iam se transformando em moedas podres.
Um enorme movimento começou a crescer entre os funcionários, para tentar aumentar o valor, nem que fosse em um real - afinal, em um restaurante a quilo hoje em dia, R$ 6 garantem uma alimentação rica, mas a base de folhas e algodão doce.
Voluntários realizaram um enorme levantamento, com preços de diversas comidas em todos os estabelecimentos comerciais da região. Pegaram preços de quilo de comida, de média de pratos, e em alguns balanços incluíram até a sobremesa.
Tudo isso, claro, sem consultar antes o Recursos Humanos da empresa. Um erro, a meu ver, fatal. Uma breve consulta e todo esse enorme trabalho poderia ser poupado.
Afinal, na hora de entregar o levantamento, a analista de RH perguntou o que era o envelope.
- Ah, é o levantamento que fizemos solicitando o aumento do valor do tíquete-refeição - disse o sujeito encarregado de colocar o guizo no pescoço do gato.
- Aumento? Pra quê? - respondeu, genialmente, a analista de RH, consumidora voraz de levíssimas alfaces diárias.
terça-feira, abril 22, 2003
"Eles sabem tudo"
Fim de mês, meu HD notou que minha conta bancária está na UTI, já desenganada pelos médicos, e ficou com pena - resolveu desligar os aparelhos. Desnecessário dizer o método utilizado: comprou uma passagem só de ida para a puta que pariu.
O mais legal é que nem deu para ficar uns dois meses esperando eu juntar uma grana, tive que dar uma nova facada, quase letal, na minha já minguada poupança e comprar um novo, no shopping de informática do Edifício Avenida Central. Lá se vão 355 pratas - isso porque o preço "promocional" era de R$ 361, pois normalmente o bicho custa R$ 474. Pagando à vista, com cheque, ganhei um animador desconto de R$ 6.
Só que para ter direito a usar o cheque, tive que preencher um cadastro no qual coloquei informações sobre as quais nem minha mãe tem acesso. CPF, número de telefone, referências pessoais, endereço, marca do computador, enfim, uma verdadeira investigação pessoal, digna da CIA.
Não satisfeita com o preenchimento de um verdadeiro histórico pessoal, a loja ainda orienta as vendedoras a ligarem para um número de telefone com informações pessoais sobre os clientes. Basta o CPF da pessoa que tudo vai sendo confirmado - inclusive meu número residencial adquirido há três anos.
É claro que eu já sei dessas merdas todas, mas resolvi dar uma de inocente e me espantar: "Adquiri essa linha há dois anos, e quando fiz o CPF, nem sonhava em ter um telefone só meu. Como eles podem associar as duas informações?".
"Eles sabem tudo", disse a vendedora. Eu retruquei: "Assustador, isso. Um verdadeiro Big Brother". Claro que a associação imediata foi ao programa de TV, não à entidade de George Orwell.
Minha ficha foi passada por fax para não sei onde, outro telefonema foi dado. Levei uns 20 minutos para conseguir ter o cheque aceito.
Um constrangimento inimaginável.
Aí me virei e perguntei: "Se eu tivesse assaltado um banco, roubado alguém, e viesse aqui com dinheiro vivo, não teria investigação nenhuma, né?".
Sem nem refletir sobre a loucura de um cheque de cliente desde 1997 precisar de mais investigação do que dinheiro roubado, a vendedora respondeu afirmativamente.
Peguei meu HD e fui embora, quase correndo, olhando para os lados, com medo de estar sendo seguido e de ser monitorado por câmeras até o maldito cheque ser compensado.
Fim de mês, meu HD notou que minha conta bancária está na UTI, já desenganada pelos médicos, e ficou com pena - resolveu desligar os aparelhos. Desnecessário dizer o método utilizado: comprou uma passagem só de ida para a puta que pariu.
O mais legal é que nem deu para ficar uns dois meses esperando eu juntar uma grana, tive que dar uma nova facada, quase letal, na minha já minguada poupança e comprar um novo, no shopping de informática do Edifício Avenida Central. Lá se vão 355 pratas - isso porque o preço "promocional" era de R$ 361, pois normalmente o bicho custa R$ 474. Pagando à vista, com cheque, ganhei um animador desconto de R$ 6.
Só que para ter direito a usar o cheque, tive que preencher um cadastro no qual coloquei informações sobre as quais nem minha mãe tem acesso. CPF, número de telefone, referências pessoais, endereço, marca do computador, enfim, uma verdadeira investigação pessoal, digna da CIA.
Não satisfeita com o preenchimento de um verdadeiro histórico pessoal, a loja ainda orienta as vendedoras a ligarem para um número de telefone com informações pessoais sobre os clientes. Basta o CPF da pessoa que tudo vai sendo confirmado - inclusive meu número residencial adquirido há três anos.
É claro que eu já sei dessas merdas todas, mas resolvi dar uma de inocente e me espantar: "Adquiri essa linha há dois anos, e quando fiz o CPF, nem sonhava em ter um telefone só meu. Como eles podem associar as duas informações?".
"Eles sabem tudo", disse a vendedora. Eu retruquei: "Assustador, isso. Um verdadeiro Big Brother". Claro que a associação imediata foi ao programa de TV, não à entidade de George Orwell.
Minha ficha foi passada por fax para não sei onde, outro telefonema foi dado. Levei uns 20 minutos para conseguir ter o cheque aceito.
Um constrangimento inimaginável.
Aí me virei e perguntei: "Se eu tivesse assaltado um banco, roubado alguém, e viesse aqui com dinheiro vivo, não teria investigação nenhuma, né?".
Sem nem refletir sobre a loucura de um cheque de cliente desde 1997 precisar de mais investigação do que dinheiro roubado, a vendedora respondeu afirmativamente.
Peguei meu HD e fui embora, quase correndo, olhando para os lados, com medo de estar sendo seguido e de ser monitorado por câmeras até o maldito cheque ser compensado.
terça-feira, abril 15, 2003
A distância e o over-qualyfing
Essa é das mais incríveis que já ouvi. A fonte eu não revelo para ninguém, porque pode atrapalhar a garota, que ainda está em busca de um emprego, e revelar o diálogo dela com nome pode atrapalhar.
Uma amiga minha, que mora no Flamengo, enviou currículo para uma vaga de assessoria de imprensa na Barra da Tijuca. Como se trata de uma grande empresa corporativa, obviamente o currículo dela foi para o Departamento de RH, ao invés de ser enviado para o cara que ia trabalhar diretamente com ela (ou para jornalistas com capacidade para saber onde uma profissional já conhecida do mercado se encaixa melhor).
Como tudo que cai em certos departamentos de RH, a coisa tomou outra dimensão. Digamos que se houvesse um departamento de RH na Seleção Brasileira de 1994, Romário teria sido barrado por "desmotivação em função de vida desregrada", Bebeto iria para a reserva por ser "tímido e pouco motivado", Dunga jogaria no gol por ter "aptidões diversas" e Jardel seria titular por "ter desenvolvido especialização".
É claro que a analista de RH, mesmo depois de já ter lido de cabo a rabo o currículo da minha amiga, mandou chamá-la à Barra da Tijuca SOMENTE para dizer o seguinte:
- Olha, nós analisamos o seu currículo e concluímos que não podemos lhe dar a vaga. Você tem qualificações demais para o cargo.
- (....)
- Sim, é sério. Nós não queremos um profissional insatisfeito ao fim do mês, ao abrir o contra-cheque.
(PAUSA PARA GARGALHADAS - Como se alguém se preocupasse com isso...)
- Pois é, mas é melhor ficar insatisfeita com o contra-cheque do que com nenhum contra-cheque, né? - respondeu a minha amiga.
A lista de motivos para a recusa de emprego aumentou um pouco, quando a analista de RH disse que minha amiga morava muito longe. Bom, imagino então que, como a Barra é efetivamente longe de qualquer coisa que eu conheça, a tal empresa seja exclusiva para moradores do bairro.
O engraçado, porém, foi que minha amiga descobriu que a analista de RH morava em São Gonçalo.
Ou seja, uma pessoa que mora no outro extremo do Grande Rio dizendo que não aceita alguém que mora no Flamengo porque é "muito longe da Barra".
Assim, uma jornalista ficou desempregada porque é boa demais.
Essa é das mais incríveis que já ouvi. A fonte eu não revelo para ninguém, porque pode atrapalhar a garota, que ainda está em busca de um emprego, e revelar o diálogo dela com nome pode atrapalhar.
Uma amiga minha, que mora no Flamengo, enviou currículo para uma vaga de assessoria de imprensa na Barra da Tijuca. Como se trata de uma grande empresa corporativa, obviamente o currículo dela foi para o Departamento de RH, ao invés de ser enviado para o cara que ia trabalhar diretamente com ela (ou para jornalistas com capacidade para saber onde uma profissional já conhecida do mercado se encaixa melhor).
Como tudo que cai em certos departamentos de RH, a coisa tomou outra dimensão. Digamos que se houvesse um departamento de RH na Seleção Brasileira de 1994, Romário teria sido barrado por "desmotivação em função de vida desregrada", Bebeto iria para a reserva por ser "tímido e pouco motivado", Dunga jogaria no gol por ter "aptidões diversas" e Jardel seria titular por "ter desenvolvido especialização".
É claro que a analista de RH, mesmo depois de já ter lido de cabo a rabo o currículo da minha amiga, mandou chamá-la à Barra da Tijuca SOMENTE para dizer o seguinte:
- Olha, nós analisamos o seu currículo e concluímos que não podemos lhe dar a vaga. Você tem qualificações demais para o cargo.
- (....)
- Sim, é sério. Nós não queremos um profissional insatisfeito ao fim do mês, ao abrir o contra-cheque.
(PAUSA PARA GARGALHADAS - Como se alguém se preocupasse com isso...)
- Pois é, mas é melhor ficar insatisfeita com o contra-cheque do que com nenhum contra-cheque, né? - respondeu a minha amiga.
A lista de motivos para a recusa de emprego aumentou um pouco, quando a analista de RH disse que minha amiga morava muito longe. Bom, imagino então que, como a Barra é efetivamente longe de qualquer coisa que eu conheça, a tal empresa seja exclusiva para moradores do bairro.
O engraçado, porém, foi que minha amiga descobriu que a analista de RH morava em São Gonçalo.
Ou seja, uma pessoa que mora no outro extremo do Grande Rio dizendo que não aceita alguém que mora no Flamengo porque é "muito longe da Barra".
Assim, uma jornalista ficou desempregada porque é boa demais.
sábado, abril 05, 2003
Na farmácia
Entro na drogaria do Botafogo Praia Shopping em busca do creme Benzac, bom para combater espinhas. É um remédio de várias graduações de intensidade do princípio ativo. Calma, essa definição não é mais complexa que o diálogo na drogaria.
- Tem Benzac?
- Benzac? - pergunta o balconista. - É aquele que tem várias graduações, né?
- Isso, eu queria o de graduação menor, acho que é 0,5.
- Ah, sim, eu não sei se tem não, acho que tem o de 1,5.
- Serve, por favor.
(...)
O balconista dá dois passos para a esquerda e analisa uma prateleira, depois da nossa conversa sobre graduações. Aí se volta para mim:
- Olha, não tem não.
- O de 1,5?
- É.
- Então qual que tem?
- Ah, não tem nenhum.
- Tudo bem, deve ter acabado, né?
- Não, não é isso, a gente é que não compra porque é um produto que tem pouca saída.
Só deu para eu dizer "ah, sim", e preferi não perguntar por que ele não quis me dizer no início do diálogo que a farmácia não trabalha com esse produto. E se o papo fosse mais longo, eu iria perguntar a ele porque um produto com mais de 20 anos no mercado e usado por milhares de pessoas tem "pouca saída".
Mas, conhecendo as regras às quais os seres humanos estão sujeitos na maioria dos empregos, preferi poupar o emprego dele e não obrigá-lo a usar bom senso - algo que nem sempre é permitido nos dias de hoje.
Entro na drogaria do Botafogo Praia Shopping em busca do creme Benzac, bom para combater espinhas. É um remédio de várias graduações de intensidade do princípio ativo. Calma, essa definição não é mais complexa que o diálogo na drogaria.
- Tem Benzac?
- Benzac? - pergunta o balconista. - É aquele que tem várias graduações, né?
- Isso, eu queria o de graduação menor, acho que é 0,5.
- Ah, sim, eu não sei se tem não, acho que tem o de 1,5.
- Serve, por favor.
(...)
O balconista dá dois passos para a esquerda e analisa uma prateleira, depois da nossa conversa sobre graduações. Aí se volta para mim:
- Olha, não tem não.
- O de 1,5?
- É.
- Então qual que tem?
- Ah, não tem nenhum.
- Tudo bem, deve ter acabado, né?
- Não, não é isso, a gente é que não compra porque é um produto que tem pouca saída.
Só deu para eu dizer "ah, sim", e preferi não perguntar por que ele não quis me dizer no início do diálogo que a farmácia não trabalha com esse produto. E se o papo fosse mais longo, eu iria perguntar a ele porque um produto com mais de 20 anos no mercado e usado por milhares de pessoas tem "pouca saída".
Mas, conhecendo as regras às quais os seres humanos estão sujeitos na maioria dos empregos, preferi poupar o emprego dele e não obrigá-lo a usar bom senso - algo que nem sempre é permitido nos dias de hoje.
quarta-feira, março 26, 2003
Direitos individuais porra nenhuma
A gente não vale nada. É sério. Basta ver o que aconteceu comigo na noite de terça-feira, dia 25 de março de 2003. Eram 19h54, pouco faltava para o fechamento do jornal, meu telefone celular tocou, aparecendo o número 9971-1234. Atendi.
"Sua ligação está sendo encaminhada para o setor de cadastramento da Telefônica Celular"
"Mas eu não liguei para merda nenhuma", pensei.
Tocou.
- Setor de cadastramento da Telefônica Celular, boa noite.
- Meu telefone tocou.
- Sim, senhor, é que nós estamos recadastrando os telefones pré-pagos, precisamos de alguns dados.
- Ei, mas peraí, eu nem sei quem é você. Como assim, como alguém liga pro meu telefone e me sai pedindo dados? Vocês estão malucos?
A mulher me explica - cheguei a pedir desculpas, pois fiquei realmente puto - que em função do decreto tal de não sei que porra de dia do governo estadual em 2002, todos os pré-pagos têm que ser cadastrados. Achei ótimo, tudo normal. Só que eu, quando comprei o celular, preenchi um cadastro e ENVIEI PELO CORREIO. Na época, já havia esses problemas dos traficas usarem o pré-pago, por isso eu já quis evitar. O diálogo continuou.
- Senhor, preciso da sua senha.
- Eu não tenho uma senha.
- É o número do código de ativação. Se o senhor não o fornecer, não poderemos recadastrar e cada ligação que o senhor fizer será interceptada pela Telefônica Celular.
- Como é que é? Que merda é essa? Eu estou no meio do meu trabalho, ajudando a fechar um jornal, e de repente alguém me liga dizendo que se eu não tiver no bolso um cartãozinho que veio com um telefone que comprei há três anos eu vou ter minhas ligações interceptadas? Fala a verdade, vocês estão de brincadeira, né?
O papo continuou. Claro, eu não estava falando com um ser humano, estava falando com um ser treinado para não se irritar - e isso é o que mais irrita. E eu puto nas calças.
A mulher concordou em não exigir a tal senha, desde que eu dissesse de quanto tinha sido minha última recarga. Eu respondi, e aí começou o tal cadastramento.
- CPF.
- (a contragosto). É xxxxxx.
- Identidade?
- (muito a contragosto). É xxxxxx.
- IFP?
- Sim.
- E-mail.
- E-mail? Como assim?
- É, um e-mail que o senhor queira colocar. E preciso de um CEP e um endereço também.
Dei todos do jornal. Continuaram as perguntas.
- Nome do pai?
- Pô, peraí, para que isso?
- O senhor optará por não dizer o nome do pai e da mãe?
- Não é questão de opção, só não entendi por que o pai e a mãe têm que entrar nessa história. E o e-mail?
- O e-mail é para o senhor ser avisado de promoções da Telefonica Celular coloco o link aqui porque quero que algum deles leia esse texto
- Ah, então não é só recadastramento.
Encerramos a sessão de tortura, pedi desculpas à moça, dizendo que sabia que ela tinha ordens para fazer aquilo, mas ela conseguiu continuar impessoal, dizendo "nós sabemos", falando na primeira do plural que nem o Evaristo de Macedo - hábito que me irrita.
Fico pensando: QUANDO um dia o direito à privacidade nesse país não vai ser privilégio dos milionários?
A gente não vale nada. É sério. Basta ver o que aconteceu comigo na noite de terça-feira, dia 25 de março de 2003. Eram 19h54, pouco faltava para o fechamento do jornal, meu telefone celular tocou, aparecendo o número 9971-1234. Atendi.
"Sua ligação está sendo encaminhada para o setor de cadastramento da Telefônica Celular"
"Mas eu não liguei para merda nenhuma", pensei.
Tocou.
- Setor de cadastramento da Telefônica Celular, boa noite.
- Meu telefone tocou.
- Sim, senhor, é que nós estamos recadastrando os telefones pré-pagos, precisamos de alguns dados.
- Ei, mas peraí, eu nem sei quem é você. Como assim, como alguém liga pro meu telefone e me sai pedindo dados? Vocês estão malucos?
A mulher me explica - cheguei a pedir desculpas, pois fiquei realmente puto - que em função do decreto tal de não sei que porra de dia do governo estadual em 2002, todos os pré-pagos têm que ser cadastrados. Achei ótimo, tudo normal. Só que eu, quando comprei o celular, preenchi um cadastro e ENVIEI PELO CORREIO. Na época, já havia esses problemas dos traficas usarem o pré-pago, por isso eu já quis evitar. O diálogo continuou.
- Senhor, preciso da sua senha.
- Eu não tenho uma senha.
- É o número do código de ativação. Se o senhor não o fornecer, não poderemos recadastrar e cada ligação que o senhor fizer será interceptada pela Telefônica Celular.
- Como é que é? Que merda é essa? Eu estou no meio do meu trabalho, ajudando a fechar um jornal, e de repente alguém me liga dizendo que se eu não tiver no bolso um cartãozinho que veio com um telefone que comprei há três anos eu vou ter minhas ligações interceptadas? Fala a verdade, vocês estão de brincadeira, né?
O papo continuou. Claro, eu não estava falando com um ser humano, estava falando com um ser treinado para não se irritar - e isso é o que mais irrita. E eu puto nas calças.
A mulher concordou em não exigir a tal senha, desde que eu dissesse de quanto tinha sido minha última recarga. Eu respondi, e aí começou o tal cadastramento.
- CPF.
- (a contragosto). É xxxxxx.
- Identidade?
- (muito a contragosto). É xxxxxx.
- IFP?
- Sim.
- E-mail.
- E-mail? Como assim?
- É, um e-mail que o senhor queira colocar. E preciso de um CEP e um endereço também.
Dei todos do jornal. Continuaram as perguntas.
- Nome do pai?
- Pô, peraí, para que isso?
- O senhor optará por não dizer o nome do pai e da mãe?
- Não é questão de opção, só não entendi por que o pai e a mãe têm que entrar nessa história. E o e-mail?
- O e-mail é para o senhor ser avisado de promoções da Telefonica Celular coloco o link aqui porque quero que algum deles leia esse texto
- Ah, então não é só recadastramento.
Encerramos a sessão de tortura, pedi desculpas à moça, dizendo que sabia que ela tinha ordens para fazer aquilo, mas ela conseguiu continuar impessoal, dizendo "nós sabemos", falando na primeira do plural que nem o Evaristo de Macedo - hábito que me irrita.
Fico pensando: QUANDO um dia o direito à privacidade nesse país não vai ser privilégio dos milionários?
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